terça-feira, abril 26, 2011

Depoimento de mãe na desencarnação da filha

Entrevista com LUCY DIAS RAMOS
Orson Peter Carrara – orsonpeter@yahoo.com.br

Depoimento de mãe na desencarnação da filha
Livro destaca detalhes e traz mensagens psicografadas

Graduada em Ciências Sociais e Administração Hospitalar, natural de Rio Novo-MG e radicada em Juiz de Fora-MG há várias décadas, Lucy é de família espírita e vincula-se à Casa Espírita daquela cidade mineira. Integrante da AME-JF no Conselho Fiscal e coordenadora de vários grupos de estudos, Lucy viveu experiência peculiar com a desencarnação da filha Sandra, que depois enviou mensagens psicografadas por Suely Caldas Schubert, e que são relatadas em seu mais recente livro. Conheça um pouco mais da conhecida e lúcida autora.

1 - Seu mais recente livro aborda uma vivência pessoal. Qual foi essa vivência e qual o título da obra e editora?
Meu mais novo livro "Maior que a Vida" (FEB), é uma narrativa de minha vivência ao lado de minha filha mais velha, que era  médica e lutou durante cinco anos contra o câncer. Sendo também espírita, vivemos nós duas uma experiência dolorosa, mas com resignação e serenidade íntima, usando de todos os recursos que a Doutrina Espírita nos concede. Líamos juntas, orávamos e enfrentávamos este transe doloroso com coragem e confiança em Deus. Todos os dias eu retornava ao meu lar e escrevia o que havíamos vivido durante aquele dia, como um diário, anotações que se transformaram no livro.

2 - Nos capítulos da obra essa experiência conjugada de conhecimento do Espiritismo e a situação vivida estão desdobrados de que forma? 
Procurei destacar o valor do conhecimento espírita e da vivência evangélica que sempre procuramos ter em nossa vida de relação, alimentando a esperança nos corações dos que venham a passar situações semelhantes. A primeira parte do livro contém a narrativa dos fatos que vivemos e a segunda parte mensagens escritas sobre a morte, algumas delas eram palestras que fiz após a morte de minha filha quando integrava o Grupo dos Entes Queridos, na Casa Espírita que presta apoio e assistência espiritual aos que sofrem a dor da separação física dos familiares que partiram para o mundo espiritual.

3 - Qual a razão principal de ter transformado uma experiência pessoal em livro?
Durante as anotações antes do falecimento de Sandra, não pensava num futuro livro, escrevia como uma catarse que fazia bem para mim mesma. Uma amiga psicóloga com a qual fiz terapia naquela fase, sabendo que escrevo me aconselhou a transformar minhas anotações em um livro que viria a beneficiar muitas pessoas. Concluí o livro logo após um ano de sua desencarnação. Foi difícil. Alguns capítulos escrevi chorando e o que narra seus últimos dias eu não consegui reler, ainda. Ressalto que o objetivo principal é  reafirmar que com a fé e o amor no mundo íntimo encontramos força para prosseguir vivendo e trabalhando no bem, superando o sofrimento.

4 - E sua família toda é de formação espírita? Como foi a reação dos demais familiares na ocorrência e com ela narrada em livro?
Minha família é de formação espírita, mas alguns familiares (como genros e noras), alguns outros que não são espíritas, receberam muito bem o livro, principalmente, os que compõem a família de minha filha, como seu marido e filhos. Mesmo aqueles amigos que são de outras religiões estão lendo o livro e fazendo comentários favoráveis.

5 - Quais outros são os livros de sua autoria? Relacione título e editora, por favor.
    Recados de Amor (2008), Luzes do Entardecer (2009), ambos editados pela FEB. Já em fase final na gráfica, também a ser editado pela FEB, com lançamento previsto para 2011, o livro Gotas de Otimismo e Paz, com prefácio de nosso estimado confrade Rogério Coelho. Será um livro diferente, com mensagens enfocando nossa vivência e nossas lutas diárias, procurando mostrar como a Doutrina Espírita nos motiva a ser feliz e viver tranquilos, mesmo em processos de reajuste e dor.

6 - De que forma a Sra. sentiu em si mesma a importância do conhecimento espírita diante do fato doloroso?
    Foi de grande importância, principalmente por sentir o conforto e o apoio espiritual durante os momentos mais difíceis. A presença constante dos amigos espirituais e benfeitores que nos amparavam amenizaram o sofrimento e o conhecimento espírita nos deu a certeza do reencontro além de nos demonstrar a transitoriedade da vida física. Fomos nos preparando e nos alimentando com este conhecimento e nas horas de desdobramento espiritual pelo sono físico, aconteciam encontros com familiares e amigos desencarnados, sentíamos o quanto estávamos sendo ajudados a superar este transe difícil.

7 - Com a experiência vivida, o que a Sra. teria a dizer a pessoas que vivem situações semelhantes? 
Que não se desesperem. Confiem em Deus porque tudo passará um dia, a dor será menos intensa e precisamos prosseguir vivendo com serenidade íntima. Quanto mais calmos e confiantes, mesmo sofrendo, nossos entes que já partiram receberão os reflexos de nossos pensamentos, de nossas atitudes e não merecem receber emanações de nossa intemperança e de nossa dor com desequilíbrio. Precisam se refazer e seguir sua destinação espiritual, como nós também um dia iremos. Eles também sentem  nossa falta, sentem saudades, mas não podemos impedir sua caminhada nesta outra dimensão de vida e tentar retê-los a nosso lado. Se você os ama, ore e confie em Jesus. O intercâmbio espiritual dará a você o alívio e a serenidade necessários. Mas é preciso que você esteja bem harmonizado intimamente para poder estar em contato com seu ente querido sem perturbá-lo com suas lágrimas e inquietações... Ao se preparar para dormir, ore a Jesus, peça por você e por ele... Certamente você o encontrará durante o sono físico.


8 - Essa temática de separação temporária de entes queridos é sempre oportuna para abordagem? E qual a melhor forma de abordagem para o público e nos diálogos individuais?
    Considero oportuna porque todos já passamos ou estaremos em situações idênticas. É importante ressaltar o valor da crença na imortalidade da alma e a possiblidade do reencontro que poderá ser de várias maneiras até que possamos ir, também, para o mundo espiritual. Devemos destacar, também, a transitoriedade da vida física, procurar despertar em cada pessoa que nos ouça ou nos procure para um diálogo esclarecedor, a necessidade do despojamento, de nos ir libertando da vida material em todos os sentidos (pessoas, coisas, bens materiais, títulos etc.). Incentivar o trabalho no bem. Quando minha filha desencarnou, procurei intensificar ainda mais meu trabalho na Casa Espírita, indo todos os dias, fazer outras tarefas como atendimento fraterno, palestras no Grupo dos Entes Queridos, escrevia mais intensamente etc. Isto ajudou bastante até que voltasse a realizar apenas as tarefas que já fazia e que considero uma benção poder estar ainda realizando.

9 - Cite o que mais lhe chamou atenção na psicografia da mensagem de sua filha por Suely Caldas Schubert?
    A semelhança dos conceitos, do que falávamos e tudo o que passei para ela desde sua infância em nosso Culto do Evangelho no Lar. Há um trecho que desejo repetir: "Não há morte, só Vida! É uma adaptação lenta, aqui não se corre como acontece aí, não temos necessidade de contar os minutos, porque o expediente do dia terminou e devemos voltar à casa, ao lar - aqui é o Lar. Estamos nele o tempo todo. Gradualmente nossa consciência se expande e nova percepção da vida nos impregna. (...) Uma coisa é certa: predomina o amor!" Em muitas cartas que ela me escrevia, quando morava em outra cidade, ou mesmo no Natal ou Dia das Mães, o estilo é o mesmo e sempre falava do amor que nutríamos mutuamente, que iria transcender a vida física...

10 - A mensagem de Sandra está publicada no livro? E como foi a reação de amigos e familiares com o conteúdo da mensagem?
    A mensagem a que você se refere está no livro, mas existe outra que recebi uns 6 meses após a desencarnação, também psicografada pela Suely C. Schubert, que é menos extensa e fala de maneira bem equilibrada sobre a chegada no mundo espiritual. Está também inserida no livro. A reação dos amigos e familiares foi positiva, coerente com o grau de conhecimento da possibilidade deste intercâmbio espiritual. Mas não ouvi nada que pudesse mostrar descrença ou dúvida com relação ao que foi escrito. Muito confortadora para todos nós que a conhecemos e pudemos conviver com ela.


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